Rodrigo Campos: Bahia Fantástica
Ouvir “Bahia Fantástica” hoje é como olhar um caderno de viagens do compositor Rodrigo Campos. Lançado originalmente em 2012, o segundo álbum do compositor paulistano marca uma virada na inspiração tanto lírica quanto estética. O primeiro disco, “São Mateus Não é um Lugar Assim Tão Longe” (de 2009), era praticamente um documentário autobiográfico: ele tocava samba (sua raiz musical) e cantava sobre memórias reais no bairro onde foi criado – desde a sinuca de quarta-feira à morte de amigos.
Já o terceiro trabalho autoral, “Conversas com Toshiro” (2015), parte para um delírio além, um sobrevoo por um Japão surreal e inspirado pelo cinema oriental, com uma instrumentação que destaca um balanço inclassificável e os vocais inventivos de Ná Ozzetti e Juçara Marçal. “Bahia Fantástica” é resultado da absorção de uma influência então recente da soul music (especialmente Curtis Mayfield) e está no meio desse caminho marcado por uma geografia improvável na parte lírica (São Mateus, Bahia, Japão) e por uma expansão da sonoridade (do samba ao indefinível, com uma passagem pela música negra estadunidense).
O disco completou dez anos em 2022 e esbanja vitalidade. A referência do soul ganha um aroma diferente quando passa pelo filtro do compositor e sua banda – formada por Kiko Dinucci na guitarra, Marcelo Cabral no baixo, Maurício Fleury nos teclados, Maurício Takara na bateria e Thiago França no sax: tem molho brasileiro, pitadas de afrobeat e um tempero muito particular. As letras trazem a marca do artista: elas projetam cenas no imaginário do ouvinte e desenham os personagens e ambientes com um estilo próprio de crônica subjetiva. Nenhum lugar é assim tão longe para a música de Rodrigo Campos.
GGLP021
2022, Brasil
LP, novo, lacrado
